por Cezar Taurion
Nos últimos meses tenho palestrado bastante sobre as quatro ondas tecnológicas que já estão quebrando sobre nós: mobilidade, cloud computing, social business e big data. Cada uma delas tem um alto poder disruptivo e as quatro, juntas, são um verdadeiro tsunami. Na verdade, não podemos olhá-las de forma isolada. Seu poder de transformação tem impactos dramáticos no que conhecemos como TI, além de provocar massivas transformações em praticamente todas as indústrias.
Diante deste cenário, reagimos de duas formas: negamos (ou tentamos minimizá-las), ou exploramos para obter vantagens competitivas, criando novos produtos, serviços e negócios.
Na base desta mudança aparece a computação em nuvem. O cenário de cloud computing transforma as relações entre usuários e provedores de serviços e produtos de TI, sacudindo a indústria de TI como a conhecemos hoje. Isso nos obriga a pensar TI de forma diferente. A conhecida analogia do copo meio cheio ou meio vazio demonstra esta nova maneira de pensar. É assim que pensamos na forma tradicional de adquirir e usar TI. O meio físico é o limite e podemos subutilizá-lo ou termos uma demanda além de sua capacidade. Em cloud, a resposta é outra: o copo é que está no tamanho errado. O que significa que podemos ter sempre um copo do tamanho certo para as nossas demandas.
Esta nova maneira de pensar tecnologia afeta de forma significativa a economia de TI. Por exemplo, quando lançamos um novo negócio ou um novo serviço, enfrentamos o desafio de avaliar o seu valor potencial versus o seu potencial de risco. Vamos supor que este negócio seja uma loja virtual para comércio eletrônico. Antes de entrar em operação, você tem que preparar toda a retaguarda, como supply chain, centro de distribuição, website, softwares de gestão, etc.
Tudo isto implica em investimento e como o resultado do negócio não é 100% garantido, envolve risco. A decisão de investimento é o quanto de risco você aceita antes que seu negócio gere o retorno deste investimento. No modelo atual de aquisição de tecnologia é necessário adquirir previamente (upfront investment) toda a parafernália de servidores e softwares antes de iniciar a operação. E planejar a configuração já com uma expectativa de carga para um volume de operações razoavelmente grande. Afinal, você espera ter sucesso e sabe que não pode aumentar a configuração de um dia para o outro… Mas, se pensarmos de forma diferente, usando o modelo de cloud, onde não existe investimento prévio? O investimento inicial é suficiente apenas para mostrar que o modelo funciona. À medida que as vendas crescem, a capacidade é aumentada. A escala da infra de tecnologia é sincronizada em proporção direta ao sucesso do empreendimento. Isto baixa de forma significativa as barreiras de entrada e nos permite criar novos negócios e lançar novos produtos com muito menos investimento em tecnologia. É o modelo pay-as-you-go.
Um exemplo já bem conhecido e que volto a citar aqui é a Animoto, uma empresa americana que oferece um serviço de criação de montagem de vídeos para uso profissional ou pessoal. Como trabalha em tempo real com vídeos, gráficos e algoritmos sofisticados, demanda alta capacidade de computação. Quando foi lançado no mercado, os seus executivos imaginavam que apenas 50 servidores (virtuais, pois começou a operar em um provedor de nuvem pública) seriam suficientes. Entretanto, para grata surpresa deles, em três dias eles já estavam processando um volume de serviços que demandava 3.500 servidores. Se fosse criada no modelo tradicional, on-premise, nenhum fornecedor e nenhuma equipe técnica conseguiria em apenas três dias instalar e colocar em operação estes novos 3450 servidores.
Outro exemplo interessante é o Pinterest. Passaram de vinte terabytes de dados armazenados para 350 em apenas sete meses, usando uma cloud em um provedor. No modelo tradicional de aquisição de storage e servidores físicos seria absolutamente inviável conseguir esta expansão em tempo hábil. No modelo on-premise, o copo meio cheio ou meio vazio está sempre do tamanho errado…
O modelo de cloud é basicamente uma automação ao extremo. De maneira geral, na gestão de recursos dos data centers tradicionais existe uma relação de um sysadmin para cada 100 a 200 servidores. Em modelos cloud computing, com automação máxima, como no caso do Facebook, a relação é de um sysadmin para 20.000 servidores. Isto significa que um sysadmin no Facebook faz o trabalho de 100 a 200 profissionais dos data centers tradicionais. Como gestão da infra é automatizada, vemos que o principal ator no processo de cloud é o software. Na verdade, cloud transforma hardware em software.
A computação em nuvem representa a “cola” que junta todas as demais ondas tecnológicas. Ela facilita a criação de modelos colaborativos, pois é o ponto de união das informações e processamento. Aumenta a funcionalidade dos dispositivos móveis, que podem partilhar os seus recursos específicos como acelerômetros e GPS (geolocalização) com a imensa base dados que pode ser analisada na retaguarda, em nuvens, criando novos modelos de sistemas, como os systems of engagement. Na verdade, cloud abre a perspectiva de pensarmos de forma diferente na maneira de adquirirmos e usarmos tecnologia e por consequência, abre oportunidades de transformarmos setores inteiros de negócio.