Tão poucas vezes na vida temos a oportunidade de sentar à mesa para apreciar um banquete. Quando ele existir pode ter certeza que o alimento, através de suas virtudes sagradas, irá tocar a sua alma e nesse instante você estará se alimentando. É bem possível observar a elevação espiritual que ocorre através dos sentidos. O sabor, o aroma, a aparência tudo se junta para proporcionar o deleite físico que faz aquietar a alma.
Percebo que a vida atribulada, a correria do dia-a-dia, fatores emocionais e as mais diversas preocupações mundanas exercem no homem o ato de comer apenas para o sustento. Falha a observação daquilo que se come e o arroz com feijão vira doses diárias de sobrevivência.
Mesmo essa combinação simples e perfeita, eleita pelo gosto brasileiro, acessível a grande maioria das pessoas, não merece estar presente no ato de comer e sim no de se alimentar. Porque alimentar, diferentemente de comer, é um processo pelo qual o organismo obtém e assimila os alimentos. Acontece com entrega, gratidão e devoção. Já comer é simplesmente um ato de possuir, devorar, engolir. Pense bem sobre isso! Poderá todos os dias, numa simples garfada de arroz com feijão, obter a proposta de se alimentar. Observe e sinta, pois nem sempre é necessário um banquete.
Os banquetes são refeições pomposas para momentos festivos, onde o anfitrião, aquele que cobre todos os gastos, tem por propósito celebrar uma grande ocasião. Os banquetes são responsáveis por dar vida a arte da gastronomia. É memorável o filme: "Vatel: Um Banquete para o Rei". François Vatel foi um célebre cozinheiro que organizou no século XVII uma formidável festa para uma pequena multidão de 600 pessoas da corte européia. Na ocosião criou um creme de nata batida, doce e perfumada com baunilha que muito mais tarde recebeu o nome de creme de chantilly. Uma homenagem ao Chateau de Chantilly, na França, onde ele se tornou o Mestre dos Prazeres de das Festividades.
Uma coisa é certa! Não podemos negar que tartlets de queijo brie, amêndoas e gengibre caramelizado, lula a dorê, com salada de pupunha temperada, massa com molho cremoso de queijo Gruyere, vol-au-vent de lagosta, raviole de mussarela fresca com molho de tomate fresco e manjericão, surubim grelhado e servido com purê de banana da terra e molho picatta de vinho branco, limão siciliano, alcaparras e manteiga, recompensados com petit gateau com calda de maracujá e sorvete de creme facilitam o seu caminho, de forma sublime, ao ato de se alimentar. Portanto em algum momento de sua vida permita-se comer bem. Pague o preço por uma satisfação inesquecível! O mínimo que pode acontecer é começar a sair da condição de caçador a gourmet como diz Ariovald Franco. Racionalizando o caçador come e o gourmet se alimenta. Mas caso torne-se um gourmet, e venha a soberar diversos banquetes em sua vida, lembre-se sempre que os prazeres à mesa se completam com a partilha do amor...
Alimentar-se é sagrado! Comer é divino!
Desejo um 2010 farto aos meus leitores. Comecei o ano com reflexões acerca do consumismo, o título do Post veio: "Consumismo como ordem de felicidade!". Mas o texto ficou para depois e agora eu repito: Precisa escrever alguma coisa sobre isso?
Continue lendo, aproveite as sugestões de escape!
Sugestões de escape: